quinta-feira, outubro 03, 2013

Não vão bater no meu professor!

Quando explodiram as manifestações de julho, eu vi muita gente gritando por aí que o gigante tinha acordado. A timeline das redes sociais era só revolta, um fenômeno que bateu até a época dos nomes nas latinhas de refrigerante. Havia várias reclamações. A meu ver, houve muito pouca opinião. A principal crítica que as manifestações do vinagre receberam era a por se tratar de um movimento sem bandeiras. Ora, mas o povo não se sente mais representado pelos partidos, clamou a imprensa conservadora e ecoaram os repetidores revoltados.

Mas quando os críticos falavam sobre a falta de "bandeiras", não eram às bandeiras de partidos que eles se referiam. O que faltava naquele movimento eram propostas. É interessante, e há até uma áurea poética, quando milhares de pessoas se unem nas ruas para dizer que o poder emana do povo (mesmo estando o povo ali ou não). Entretanto é preocupante e vazio quando boa parte daquelas pessoas sabem o que não querem, mas não fazem a menor idéia do que querem. Pior é quando muitos cartazes refletem a opinião pública, digo opinião publicada, e as pessoas que os carregam nem sabem o que querem dizer. Um exemplo fácil de citar é o da PEC37. E a imprensa elegeu logo a corrupção como o cerne dos protesto.

Na verdade, em junho e julho, o movimento começou com uma bandeira clara: melhoria na mobilidade urbana. Depois que o MPL se retirou da luta, o protesto acabou vazio tocado por alguns coxinhas e depois com meia dúzia de vândalos causando baderna. Durante todo esse tempo, a polícia agiu da mesma forma: com bastante violência.

Pouco tempo depois, os professores da rede municipal do Rio de Janeiro, seguidos depois pelos da rede estadual, deflagraram uma greve. A constituição os dá direito para tal. As condições aos quais nossos mestres são submetidos todos os dias mais do que justificam essa atitude. Escolas caindo (literalmente), salas super lotadas, sistema pedagógico risível, salários baixos, desmandos de uma secretária que não representa em nada a categoria. Os professores pararam, os professores foram engolidos por um prefeito "olimpianamente" arrogante, os professores foram para a rua protestar.

Quando uma parte da sociedade vai para a rua protestar, é porque quer ser ouvida. É porque tentou negociar politicamente melhorias para sua classe e não conseguiu. Desde o começo da greve, não vi a "grande" imprensa dar muita importância ao movimento. Não vi os revoltados do feicibuque reclamarem por melhores condições para nossos professores. O movimento dos professores é muito mais difícil de embalar e vender como um protesto contra a corrupção o qual será direcionado para quem a imprensa bem entender. A elite conservadora não consegue converter a insatisfação dos mestres em algo que convenha a seus interesses porque nossos professores têm propostas. Eles estão indo para as ruas dizendo o que não querem, o que querem, porque querem e como querem. Eles estão organizados política e socialmente.

Na última terça-feira, ocorreu um dos fatos mais lamentáveis de nossa história recente. Professores protestavam em frente a câmara dos vereadores contra a votação de um plano de educação imposto e elaborado por Eduardo Paes sem a participação do sindicato dos professores. O que o ocorreu no fim do dia foi constrangedor para nossa democracia. A Polícia Militar do Rio de Janeiro atacou violentamente nossos professores. Jogou spray de pimenta e bombas de efeito moral neles. Durante boa parte da noite, a PM caçou pelas ruas do Centro da cidade e forjou flagrantes (até o jornalão publicou).

Bater em professor é inadmissível. Todos nós já fomos alunos. Todos sabemos o quanto é necessário se dedicar para seguir uma profissão tão desvalorizada em nosso país. E terça a noite nossos professores foram violentados por uma polícia truculenta, covarde e despreparada. Uma polícia que nunca foi um braço do Estado com qual nós, moradores do Rio de Janeiro, pudemos contar. E agora, ela resolve espancar física e moralmente nossos professores. Isso eles não podem fazer.

Eu acredito que boa parte daqueles que foram para as ruas em julho não concordam com as reivindicações dos professores, apesar de terem gritado por "melhor educação", em julho. Mas eu acho inaceitável que este acinte com a educação passe em branco. Os professores têm suas bandeiras e eles têm direito a lutar por elas. Nós, como alunos ou ex-alunos, temos o dever de defender ao menos uma: não vão bater em nossos professores. Seja com cacetete, spray de pimenta, ou bomba. Professores não são vândalos e não é tolerável qualquer tipo de violência contra eles. O direito de protestar e propor é caro para a democracia.

Os acontecimentos de terça-feira fizeram com que a demanda de uma classe se tornasse uma luta da sociedade toda. O gigante deveria ter acordado e se organizado antes para perceber que as bandeiras da educação são fundamentais para qualquer transformação social que almejamos. Mas estávamos muito ocupados postando fotos de nossos gatos na rede social. Agora não tem mais desculpa. A PM, braço de repressão do Estado, elegeu um inimigo: os professores. A grande imprensa resolveu desqualificar o movimento dizendo que ele é conduzido por partidos sem representação. Precisamos nos posicionar. Na segunda feira, dia 7 de outubro, às 17h, será feito um ato pacífico que começa na Candelária e irá até a Cinelândia. Eu estarei lá. Professores, muito do que conquistei em minha vida (conhecimento, amizades, trabalhos e lições) foi graças a alguns de vocês. E por causa de vocês eu aprendi que a violência não é uma forma válida de alcançarmos nossas demandas. Contem comigo! 

sexta-feira, abril 08, 2011

Silêncio

Silêncio

Este é um momento de silencio. Os acontecimentos desta semana, as crianças mortas na escola de forma estúpida, podem gerar um série de sentimentos na humanidade. Primeiro, pela forma como tudo aconteceu. Segundo, porque qualquer atentado contra vida de uma criança é algo estúpido. O ser humano, infelizmente está acostumado a massacres que possuam "justificativa. É assim com as guerras, com os latrocínios. Por mais revolta que cause, perder alguém querido por causa de um relógio, isso tornou-se quase aceitável no coração das pessoas. Esta é a sociedade capitalista. Muitos destroem o planeta para ter lucros, outros inventam guerras e destroem almas e famílias, há ainda os matam por um relógio.

Mas, em nenhum destes casos, a humanidade se sente tão desamparada como se sente quando ocorre algo como os fatos desta escola no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro. Ali, foi feito o mal, pelo mal. Não adianta tentar buscar nenhuma explicação, pois nenhuma será satisfatória. Os médicos e psicólogos podem traçar perfis psicopatas no responsável pela execução. Os vizinhos podem dizer que ele tinha um comportamento estranho. Isto não conforta. Seres humanos, saibam ficar de luto. Este é um momento de silêncio. Não é o momento de espezinhar a tragédia com fotos, notícias e manchetes. Não é o momento de desejar que o assassino estivesse vivo para que ele arcasse com todo ódio que está sendo gerado neste momento. Se ele estivesse vivo, ele seria mais uma justificativa, um elemento que poderia saciar falsamente a sede da sociedade que choraria por justiça. Não é momento de ódio, que só servirá para tentarmos confortar nosso peito em vão. Agora é momento de silêncio. É hora de saber chorar pela maldade que foi feita, pelas vidas que foram tiradas, mas sem ter sentimentos de revolta. Eles serão inúteis. Os pais destas crianças já estão revoltados o bastante.

Vamos aceitar o luto e fazer com que ele nos torne mais humanos, no sentido grandioso da palavra, por mais que a sensação seja de pequenez. Percebam suas fraquezas, sua simplicidade diante de uma realidade que, muitas vezes, pode escapar de suas explicações. Abracem a pessoa próxima de vocês. Chorem no seu ombro. Uma crueldade terrível foi feita, um atentado à beleza da condição humana. E você está despedaçado por dentro porque você também é humano. Aproximem-se uns dos outros, enxerguem-se iguais perante o universo. A tristeza está aí e não haverá atitude a ser tomada por autoridades, ou agentes da sociedade civil que a amenize. É um momento para reconhecer a unidade presente na humanidade, que se choca, independente de sua condição cultural, diante de um ato tão grotesco.

É compreensível que se tenha ódio de um ditador, de um ladrão, ou de um aproveitador. Eles estão cruzando a linha estipulada pela sociedade que separa a boa conduta da conduta perversa. Essa semana, ficou claro que existe uma linha acima dessa. Uma linha traçada pelo universo, desenhada a partir da plenitude e do equilibro de tudo que significa o fato de ser uma pessoa do planeta Terra. Essa semana, esta linha foi ultrapassada. E diante disso, não busquem explicações pois estas serão oriundas dos códigos da sociedade e serão, portanto, insatisfatórias. O que foi ferido dentro do coração de cada um, não foram os limites sociais, mas a natureza humana. Este é um momento de silêncio.

terça-feira, novembro 10, 2009

A Terra

Eu não esperava que você crescesse tão rápido. Não achei que algum dia você viesse com opiniões, ou que fosse capaz de analisar seus sentimentos. Ou os meus. Nós, pais, sempre achamos que os filhos não vão crescer. Sempre achamos que somos pais e mães e isto será bastante. Tem a ver com o amor que nós sentimos. Incondicional. E impossível de ser compreendido pelos filhos.

Enterrado, posso fazer muito pouco por você agora. Talvez pela primeira vez esteja próximo do que deveria ter sido ao longo da sua vida: suas raízes. A diferença é que eu vou ser consumido por esta terra e minha árvore continuará a dar frutos. Disse que te amava poucas vezes e esta será a lembrança que você vai levar. Eu não te culpo. Essa não é a primeira vez que sinto tanto peso em cima de mim.

Eu levei minha vida da melhor forma que pude. Não da melhor forma para mim, mas para você. Tenho certeza que você não vai reconhecer isto, mas era o que eu podia dar. Eu fiz o meu melhor. E sei que é exatamente o que você está fazendo agora com sua família.

Cada um tem seus méritos e você, filho, teve sorte. Sua mãe era uma boa mulher, mas eu não era um homem bom o bastante para ela. Esta é uma vantagem que você tem. Aproveite a esposa e o filho que conquistou. Eu sempre tive orgulho de você. Sempre contei orgulhoso para meus amigos o que você fazia. Cada passo, cada vitória conquistada, cada frase bem colocada. Eu só não era inteligente o bastante para conversar com você. Nessa rachadura que se abriu no nosso chão devem caber todas as palavras que eu gostaria de ter te falado, mas que eu não conhecia. Seja bom, meu filho. Trabalhe duro. Viva leve. E não cave um buraco que seja maior do que seu tamanho. Mas se cavar, procure no céu uma forma de sair. Estarei estendendo a mão.

quarta-feira, novembro 04, 2009

O Ar

Ela simplesmente não queria pagar contas. Não queria caminhar até o banco, esperar na fila e voltar pra casa sentindo brisa. Ela não conseguia saber aniversários e nem andar em linha reta. Tentava ao menos andar com a cabeça reta. A casa era de papéis, roupas e cinzas. E qualquer vento que batesse redecorava o lugar.

Sua mente andava tão esparsa que misturava infâncias com histórias. Ficou na dúvida se fora violentada ou se aquele era um filme que assistira. Criança e cinema tinham algo em comum, mas talvez fosse a erma torta de maçã exposta na janela. A vizinhança já não era a mesma.

Não podia se lembrar de cada instante da vida que passara. Estes, dos quais não se lembrava, deixavam de existir, porque é de memória que vive a lembrança. Os outros permaneciam enquadrados na mesa de canto. De alguma forma, o esquecimento passeia com a felicidade como virtude. É uma felicidade ignorante e, por isso, plena.

Evitou qualquer clichê que ligasse vento a liberdade e decidiu que deveria jogar as chaves de casa fora. Poderia ter se olhado no espelho, mas o ar não reflete no escuro. Foi quando respirou fundo, mas antes que pudesse soprar de volta, esqueceu para que fizera tal movimento. Lá fora, a chave pendurada em uma árvore que balançava. Hora de dormir.

sábado, outubro 31, 2009

A Água

A discussão começou como se não fosse chegar a lugar algum, mas acabou com portas batendo violentamente e a vontade de não se encontrarem nunca mais. Quando se bate uma porta com violência por causa de um assunto tão banal, há que se esperar o pior. Sobretudo, deve-se acreditar que aquela discussão banal não é o motivo do estrondo causado pela explosão no portal.

O quarto ficou vazio por algumas semanas. Depois ele foi falsamente preenchido algumas vezes. O café da manhã era sempre solitário, mesmo que antes eles não tomassem café juntos. O jornal estava lá, inteiro. As plantas não secaram pois havia o costume de regá-las. E era justamente por causa de tantos costumes que eles haviam se afogado.

Chuva forte, luz fraca, livro fechado na cabeceira. De onde vêm tantas nuvens? Deus deve saber criar nuvens melhor do que qualquer outra coisa que ele já criou. A nuvem é a imagem e semelhança de Deus. É intocável, fica lá longe no céu. É grande, pode ser de chuva ou de sol. E é tão leve que ela mesma fica na dúvida se existe ou se precipita em água.

quinta-feira, outubro 29, 2009

O Fogo

“Eu não soube o que eram escolhas”, ele disse esperando alguma resposta vinda dos olhos dela. Mas ela não se importou. Continuou olhando, pela janela, a cidade em chamas e as negras torres de fumaça que riscavam o céu da madrugada. “Era como se ela não quisesse estar ali”. Foi o que ele pensou várias vezes até que ela finalmente virou-se da janela e deu a resposta que ele esperava de seus olhos. “Querer não é uma faculdade muito estranha.” Silêncio.

Ouviram sirenes cruzando a frente do prédio. Depois desapareceram em seu rumo. E fez-se silêncio novamente. Por que não se pode ter silêncio quando se quer? Por que engolir o mudo é muito mais difícil? Eles simplesmente não se importavam. Tinham quase certeza que ainda eram humanos e isto era o que os havia levado para o tédio. Cansaço.

Ele percebeu que a Lua forçava uma aparição entre as nuvens. Ela não percebeu quase nada. Mulher vive em estado de percepção, de modo que há poucas novidades na janela. Ela sentiu uma náusea. Deveria ser a menstruação chegando. Isso ela percebeu. Lembrou mais uma vez que era humana. Não porque menstruava, mas porque sentia náuseas.

“Roma está em chamas”, ela disse. “Não que possamos fazer alguma coisa, mas porque Nero é o que somos: niilistas apegados à invenção que nos diferenciou dos outros animais.” Ela não estava falando da roda. Ele ofereceu um cigarro apenas em gestos e ela o aceitou da mesma forma. “A cidade está em chamas.” E a pouca humanidade ardeu nos peitos, consumindo qualquer traço de sabedoria.

quarta-feira, outubro 14, 2009

[selfpromotion] Omertà

Posto o meu primeiro curta, realizado em 2007 (eu acho), com uma câmera, dois atores, eu e meu irmão. E só isso!








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domingo, outubro 11, 2009

A pizza do Habibs está menor

Eu reparei que a pizza do Habibs diminuiu de tamanho. Tudo bem, não é um exemplo de gastronomia. Mas, no Rio de Janeiro, o que fica aberto depois das 2 da manhã?

Na verdade, é uma nova forma das empresas aumentarem o preço de seus produtos. Mantem o preço anterior, mas diminuem suas embalagens e quantidades.

Várias marcas já fizerem isso. Já reparou?

quinta-feira, outubro 08, 2009

Ikea Heights - Websérie

Exemplo de Websérie bem bacana. Parece que ela não foi oficialmente encomendada pela loja Ikea (tenho minhas dúvidas), mas acabou virando sucesso lá fora. Produção simples, barata e com um texto engraçado. Estou postando o episódio 01, mas você pode encontrar outros pesquisando pela Internet.




terça-feira, novembro 25, 2008

Luz azul no fim do túnel

Faltam duas rodadas para acabar o campeonato e parece que o Vasco vai mesmo cair. Toda a onda verde que cobriu o Rio durante a campanha do Gabeira já sumiu e ele próprio colocou a viola no saco e desapareceu. A crise econômica chegou mesmo e minhas poucas economias estão sendo dilapidadas pela Petrobrás e a Vale. Mas, acredite se quiser, nem tudo está perdido. Descobri recentemente que Eduardo Paes é portelense! Quem sabe ele não distribui panfletos apócrifos contra a Beija-Flor e leva minha Portela ao fim deste enorme jejum de campeonatos? Em Roma haja como os romanos. Ainda há uma luz, sim, no fim do túnel. Ela está brilhando em fevereiro e é Azul.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Cowboy Fora-da-lei

Minha última postagem sobre as eleições para prefeito 2008. Uma homenagem ao Gabeira:

Cowboy Fora-da-lei


Composição: Raul Seixas e Claudio Roberto



Mamãe, não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar
Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz
Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz

Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cowboy
Cowboy fora da lei
Durango Kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
Entrar pra historia é com vocês!

Se o Vasco cair, acabou...

Ainda estou em estado de choque. O Rio de Janeiro teve a chance de mostrar para o Brasil de que aqui não se faz política com boca-de-urna, campanha suja, panfletos negativos. Era só votar para dizer que a máquina pública não elege ninguém. Na nossa cidade, quem elege o prefeito somos nós. O Rio de Janeiro teve a oportunidade de escolher alguém que fez uma campanha propositiva e não só prometeu melhorar saúde, educação e baixar impostos. Só o fato das ruas não ficarem inundadas de panfletos e cartazes já era o suficiente para acreditar que o Gabeira se importava mais com a cidade do que o Eduardo Paes. Mas se o próprio carioca se importasse com o Rio, não tinha viajado para aproveitar o final de semana prolongado propiciado pelo Cabral. O Rio de Janeiro está abandonado. Abandonado pelo TRE que permite que os candidatos e governantes descumpram as leis eleitorais, atacando o que há de mais valioso nessa pretensa democracia: o processo eletivo. E, principalmente, pelos próprios cariocas, que trocaram um feriado por mais quatro anos. Pegar um solzinho na região dos lagos deve ser mais importante do que cuidar da própria cidade. Não adianta virem publicitários dizerem que a grande votação em Gabeira já foi uma vitória. Não foi. Porque os processos de curral eleitoral, o lanchinho para o eleitor, o populismo tosco conseguiram vencer o sopro verde de renovação política. Em janeiro de 2009, ninguém mais vai lembrar dos sonhos que encheram quase metade dessa cidade de esperança. E mesmo agora, já podemos ver que a maioria dos cariocas joga lixo na rua como se fosse algo natural. A expressiva eleição no Gabeira não mudou a forma de pensar do Rio de Janeiro, coisa que talvez sua eleição fizesse.

PS: Coloco o Rio de Janeiro e o carioca como um coletivo só pois estamos falando aqui de democracia representativa, onde quem se impõe é a maioria simples.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Jogo das 7 Letras

Diante da polêmica do analfabeto das 7 letras, lanço o seguinte desafio: será possível escrever uma poesia, utilizando apenas 7 letras? Ou mesmo uma história?
Que comecem os jogos: quem consegue escrever uma história, uma poesia, ou uma música de axé com apenas 7 letras? As letras podem ser repetidas o quanto for necessário, mas o texto precisa ter sentido. Não é uma frase! Afinal, o Paulo Coelho já deu sua declaração defintiva sobre as frases. Não é por acaso que ele é o maior intelectual do Brasil... segundo palavras dele mesmo... ai, ai... Uma frase é uma frase! E o que queremos aqui é uma história, uma poesia ou uma letra de axé! Sem sentenças de auto-ajuda barata copiadas da internet!

quarta-feira, outubro 15, 2008

A árvore, o filho e o livro

Lançado pela 7 Letras, o livro "O Anafalbeto que passou no vestibular" levou-me ontem à uma reflexão profunda... teria o analfabeto, além de passado no vestibular, escrito o livro? E se o fez, teria ele escolhido, ironicamente, a editora 7 letras para lançá-lo? Conheceria o analfabeto mais do que 7 letras e, se o fizesse, seria analfabeto, ou semi-analfabeto? E por último, mas não menos importante: é possível escrever um livro com apenas 7 letras, sendo, ou não analfabeto? São perguntas que apenas a leitura do livro pode responder. Ou seja... perguntas que ficarão sem resposta...

Segundo Round, ou Minha Terra Tem Palmeira

Os últimos instantes do primeiro turno da corrida pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro foram surpreendentes. Só não foram mais surpreendentes do que os primeiros instantes do segundo turno, quando o Gabeira apareceu como concorrente de Eduardo Paes. A eleição carioca é muito interessante: de um lado um candidato historicamente ligado à direita pleiteando a imagem de aglutinador da esquerda progressista, do outro um candidato com uma trajetória fortemente de esquerda em coalizão com o que há de pior do conservadorismo nacional. A conclusão é a seguinte: a campanha foi despolitizada. Não há mais posições ou ideologias políticas e a escolha do candidato passa por outros critérios que não as legendas as quais aparecem ao lado de seu nome. Eis o fim de qualquer ilusão de que a política pode ser levada a sério no Rio de Janeiro. Escolha-se o candidato por características pessoais, porque qualquer caminho público tomado anteriormente pode ser desfeito em uma ridícula carta de desculpas. De fato, não há muito mais o que falar sobre esse assunto. Depois que Vladimir Palmeira (ex-líder estudantil de 68, preso político) resolveu apoiar Eduardo Paes, qualquer resquício de ideologia desceu fundo nas densas águas da nossa Baía de Guanabara. Tudo bem que dentro de uma mente marxista pode parecer inevitável concordar com a posição tomada pelo partido (e não vou perder tempo aqui discutindo o que é o PT do Rio... pelo menos não hoje). Mas, meu querido Vladimir... vai pra casa. A Benedita, o Edson Santos e o Bittar resolveram apoiar o Paes por causa de meia dúzia de cargos no governo do Sérgio Cabral? É compreensível... Mas você, Vladimir, fica em casa. É melhor do que dizer que o Paes é um candidato que tem "história". Menos do que uma traição ao Gabeira (estou falando daquele de 68), é um acinte à nossa inteligência. O que é isso companheiro?

terça-feira, abril 08, 2008

sexta-feira, março 28, 2008

Eleições 2008 - Primeira análise

Assumindo essa minha onda de postagens com teor político, farei a primeira análise das eleições municipais de 2008. Embora as candidaturas não estejam fechadas, já podemos ter uma idéia da quantidade de bizarrices que vêm por aí.

Ontem, Sérgio Cabral anunciou o apoio ao candidato do PT, Alessandro Molon. Anunciou assim mesmo. Sem avisar ninguém. Nem o próprio candidato que disse ter ficado sabendo do apoio através da imprensa. A partir desta sólida aliança, Cabral conseguiu manter sua posição de capacho do Lula (situação que o mantém com boa popularidade, apesar da sua ineficiência administrativa), isolou o moleque Anthony Garotinho e deixou o Bispo Crivella de cabelo em pé. Dentro de todas as surpresas causadas pela movimentação de Cabral, uma me chamou atenção em particular: parece que pela primeira vez o PT com a intenção de ganhar na capital do RJ. O Rio de Janeiro, ao menos nesta eleição, deverá deixar de ser moeda de troca do diretório nacional do partido. Juntando Cabral e Lula em torno de um candidato, relegando Crivella à segundo palanque, o PT parece estar apostando alto em Molon.

O candidato da Igreja Universal tremeu nas bases. A única característica que o desvincula do fanatismo religioso é a base dada por Lula. E ela acabou de romper sua primeira rachadura. É surpreendente que, no Rio de Janeiro, a declaração pejorativa referente a Gabeira não cause imediata repulsa pelo bispo. "Gabeira defende homem com homem e a maconha." Eis o nível da campanha que começava a ser desenhado. A entrada de Molon se tem algo de positivo, talvez esteja na necessidade de se elevar este nível, a despeito do apoio de Don Picciani. Crivella é um candidato homofóbico. Independente de religião, a intolerância precisa contar como algo negativo na carreira de um político!

Gabeira é o candidato folclórico. Fez uma coligação esdrúxula (PV-PSDB-PPS), onde o único partido possuidor de uma ideologia é o dos tucanos. Isto caracteriza a candidatura de Gabeira como um voto na direita. Esdrúxulo! A esquerda festiva resolveu desfilar de tanguinha nos posto 9... de novo. Conta a seu favor, a força de sua figura. O Gabeira é aquela coisa engraçada que a gente gosta de ver na TV. É uma pessoa que teve a trajetória histórica transformada em ícone pop. Isto acaba superando o caráter conservador de sua chapa. Quem votar no Gabeira, vai votar em sua figura, esquecendo o que está por trás da campanha. O Gabeira é o Macaco Tião de 2008.

O atual prefeito está vendo que a candidatura de Solange Amaral não vai decolar. Rolam boatos que seria substituída por Ronaldo Cezar Coelho que possui duas vantagens em relação a ela: possui Cezar no nome (apesar do Z) e, graças ao irmão, possui um pequeno conhecimento sobre as regras do futebol.

Por falar em futebol, na ponta esquerda corre Chico Alencar. Político respeitável, até filiar-se ao eleitoreiro PSOL. Ok. Todos os partidos são eleitoreiros, mas o PSOL finge que não é, finge que nasceu da desilusão com o PT. Pessoalmente, Chico está atirado para tudo que é lado. Em uma declaração recente detonou o ex-aliado Molon. Nada mais eleitoreiro, visto que eles disputam o mesmo tipo de voto.

O PC do B vai insistir com Jandira. Ainda sem escova progressiva e com pouca credibilidade. Foi apontada pelas pesquisas como o candidato de maior potencial do PC do B no Brasil... pra você ver como eles andam mal das pernas.

Há ainda o candidato do PDT, Paulo Ramos. Mas, convenhamos: quem é Paulo Ramos? Mais um candidato do PDT só pra cumprir tabela.

Muita coisa ainda pode mudar. As convenções dos partidos ainda precisam confirmar as candidaturas, mas tudo indica que teremos uma eleição com os votos bastante divididos. Eu não abro mão: voto no Raul Seixas, assim que ele mudar seu domicílio eleitoral para o Rio. Enquanto isso não acontece, voto no mosquito da dengue. Afinal, é ele que está mandando por aqui mesmo.

segunda-feira, março 24, 2008

Assim caminha a humanidade

Alguém que passou os últimos anos viajando entre os planetas que não a Terra, pode se animar ao ver que os dois pré-candidatos democratas a presidente do mundo são um negro e uma mulher. "Sinais de tempos progressistas, é um avanço que setores excluídos da sociedade estejam pleiteando cargo tão importante." Então, alguém mais avisado, que preferiu não sair daqui, avisa que a Condoleeza Rice é mulher e é negra, ao mesmo tempo. E sem saber porque, o ex-viajante espacial sente um sombrio arrepio correndo-lhe a espinha. Afinal, presidente dos EUA, é sempre presidente dos EUA. E o último deles escolheu Condoleeza para ser sua principal mão de ferro...

quarta-feira, março 12, 2008

Passou

Quase comentei um monte de coisas aqui. Quase. Vou comentar a primeira delas.

Li uma notícia, logo depois do carnaval, dizendo que a prefeitura do Rio tinha calculado as necessidades do carnaval de 2008, com base no carnaval de 2007. Quer dizer, calcularam algum aumento, mas acabaram surpreendidos, pois a porcentagem extra de banheiros públicos acabou sendo muito menor do que a porcentagem extra de blocos que encheram as ruas cariocas. Não entendi muito bem como eles foram tão surpreendidos assim, já que os blocos se inscrevem na prefeitura, permitindo que haja certo censo do crescimento folião.

César Maia disse que fez o que pôde. E mais: que a estrutura do carnaval de 2009 será calculada a partir do de 2008. Ou seja, ele vai insistir no erro. Os blocos têm se multiplicado e o carnaval de rua está de volta ao Rio de Janeiro, definitivamente. Somado a isso, a proximidade do carnaval com o ano novo fez com que menos pessoas viajassem e, portanto, aproveitassem o período por aqui mesmo. Mas como César não deve gostar que a cidade fique cheia, comentou: "Espero que eles não cresçam mais...". Isso mesmo. Nosso prefeito espera que o carnaval de rua de nossa cidade, não cresça mais. Tratou dos blocos quase como ervas daninhas. Todo mundo já sabia que ele era ruim da cabeça, mas agora ficou claro que ele também é doente do pé. Ah, César. Nossa sorte é que o jornal O Globo decidiu que você não vai mais ser prefeito por aqui. Que tal tentar a candidatura em Paris?

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Eu não desisti

Eu não desisti do Blog. Vou escrever, mas, enquanto não o faço, deixou o link do meu filme que está no YouTube. Podem comentar por aqui, mesmo.

http://br.youtube.com/watch?v=cHJgWxltv90

quinta-feira, janeiro 31, 2008

To me guardando pra quando...

Devido à proximidade do feriado, resolvi aferir as provisões da minha torre e percebi que estou vivendo em carestia.
Não devo escrever nos próximos dias porque saí pra comprar pão.

Até quarta!

terça-feira, janeiro 22, 2008

Votação encerrada, ou por que as pessoas votaram em alternativas próprias

A votação está encerrada. Precisei de algum tempo para apuras os votos, devido à enxurrada de leitores ocasionais que resolveram soltar a voz no espaço mais democrático da internet.
Entretanto, tomei uma decisão autoritária. 50% dos leitores, escolherem por alguma alternativa que não lhes foi dada. Achei isso excelente, pois prova que as pessoas se sentiram a vontade para opinar a esmo, ignorando qualquer tipo de alternativa pré-estabelecida. Alguns votaram por uma Londres melancólica, em tempos de rock ´n roll, perdidos em poucas bandas inglesas que ainda resistem. Foi um voto bonito, confesso. Votar em algo que já quase não existe, é um voto romântico-retrógrado, desprezando o presente e clamando pelo passado.
Outros votaram na capacidade dos europeus de ficarem parados esperando o sinal abrir. Realmente é algo digno de nota. Os caras fazem ônibus na altura do chão para deficientes (apesar de terem queimado grande parte deles durante o nazismo), respeitam os sinais, não jogam lixo no chão. A civilidade européia merece uma lembrança, mas este voto vai ser invalidado, como forma educativa. Afinal, na Europa, ninguém votaria em algo que não foi proposto pela enquete.
Houve apenas uma pessoa que optou por Portugal e Algarves (o que é Algarves???), relembrando o valor da língua e sua relação fundamental com este blog, sem a qual ele fatalmente não existiria. Este voto, apesar de único, foi considerado pela comissão julgadora hors-concours.
O grande vencedor da noite foi Amsterdam, com 28,5% dos votos válidos. Só não sei explicar porque... acho que é porque... sei lá...

terça-feira, janeiro 15, 2008

O milagre dos Bad Taste Bears, ou a sociedade de consumo invadindo o quarto do escritor

Dentre muitas coisas que descobri na Europa uma vem me perseguindo. A despeito de catedrais faraônicas, idades médias, reis, rainhas e arlequins, há algo de sórdido nos reinos e nas democracias liberais da Europa: os Bad Taste Bears.
Vou me dar o trabalho de traduzir: são bonecos de ursos, de mais ou menos 15cm de altura, fazendo coisas de mal gosto. Vai do dedo no nariz à zoofilia, passando pelo sadomasoquismo, as torturas medievais e sátiras à ícones pops.
São produzidos pela Piranha Studios que, apesar do nome, não é uma concorrente da Daspu, mas uma empresa sediada em terras bretãs. Vale a pena conferir o site em www.badtastebears.com .
E aproveito para lançar a enquete: O que você mais gosta na Europa?

a) a Rainha (embora não pertença à Europa continental, é uma das poucas coroas remanescentes, ainda mais agora com a ascenção na França do jovem pop direitista Sarkozy)

b) A cidade de Pisa (responsável pelo eixo inclinado da terra e verdadeiro centro do mundo, onde apenas a torre mantém a posição vertical)

c) Paris (afinal, "nós sempre teremos Paris", como já dizia o galã Rick em Casablanca)

d) Portugal e Algarves (o que é Algarves????)

e) Os Bad Taste Bears (expressão única da contemporaneidade crítica robinhoodiana, apesar de custarem boas libras esterlinas)

f) Amsterdam (não lembro bem porque... mas era legal...)


Responda e faça comentários. O resultado será apurado nas próximas semanas.


P.S: Não, eu não estou ganhando por fazer merchandising no blog... por enquanto...

Quebrando o gelo

Ando em uma fase branca, escrevendo nada, ouvindo pouca música, bebendo mais gelo do que whisky. Talvez seja um bom momento para acatar o pedido da minha leitora única (mas que vale por três depoimentos) e reativar de fato esse blog. Pelo menos enquanto ele me tiver alguma serventia, seja comentando assuntos da minha vida privada ou da privada que é a vida neste país, embora eu mesmo não acredite em serventia alguma se não aquela conhecida quando tratamos de privada.
Continuo tendo muito sono de manhã...

segunda-feira, setembro 03, 2007

Reativando

Estou pensando em reativar este blog, apesar de ninguém ler... Quem sabe?

domingo, novembro 05, 2006

Amarelinha, Xadrez e Forca

Longe de mim defender qualquer ditador. Só quero deixar registrado aqui que não estamos sendo enganados pela hipocrisia norte-americana. E quando coloco o verbo numa pessoa plural, é porque acredito que o leitor concorde comigo. Mas se não concordar, estou certo que meu cachorro concorda, o que já nos torna plural de qualquer forma.
Fica registrada a estúpida sabedoria que temos quanto à decisão do tribunal especial que julgou o Saddam. Como pode-se lutar pela democracia, derrubar governos e devastar países, e depois condenar alguém (quem quer que seja) à forca? Forca? Pelo amor do Deus inexistente! Tiradentes morreu assim! Mas foi no período colonial!
Algumas palavras de desprezo à pseudo-democracia americana que ainda acha que pode sair enforcando inimigos por aí. Espero que não pendurem o corpo do Saddam em frente à ONU como exemplo aos demais cidadãos do mundo, ou seja lá quem a ONU acha que representa.

quinta-feira, maio 04, 2006

Ao menos ainda temos a Lua

Pegaram o vagão da pós-modernidade e chacoalharam forte. E, no meio de fragmentos, messias, correrias, Internet, pastores e saudades, alguém gritou que, já que não podia fazer o metrô a um real, pelo menos que fosse rosa com pompom.
Em meio à enxurrada conservadora sobre nosso governo, dito, de esquerda, o Bolinha achou que poderia ser Jesus Cristo e tentou a multiplicação das ONGs. Mas se a maioria da imprensa é conservadora, ao menos ainda não é burra, a despeito da unanimidade que credita às suas “opiniões”. Acharam o fio da meada e num puxão só derrubaram o pré-cadidato messias. Então, o garotinho Jesus olhou para o período da vida de Cristo que a bíblia omite e resolveu virar Gandhi. Pobre ilusão de um político que, fisicamente, está mais para Ganesha (o deus elefante hindu).
Decretou greve de fome e expôs o ridículo de nossa sociedade moderna construída em pleno arcaísmo coronelista. O presidente operário se enrola no aparelhismo de um partido que sempre quis ser trotskista (e, por isso mesmo, caiu no stalinismo). O ex-presidente que loteou o país e comprou deputados para conseguir sua reeleição é o patrono da democracia. A burguesia conservadora paulista acha que vai conseguir votos chorando a morte do catolicismo aristocrático na política. E o ex-governador messias resolve que a Índia é aqui, achando que um povo em greve de fome forçada vai elegê-lo caso perca alguns quilos. Será que ele acha mesmo que acreditamos nessa história de que, logo ele, vai fechar a boca? Além de subestimar a inteligência alheia, aposto que come escondido uns bombons que ganhou das ONGs na Páscoa.
Resta ligar a TV ou ler um jornal e ser obrigado a ter contato com a esquizofrenia jaboriana ou com as bobagens apocalípticas do gordo. Isso me faz pensar no período de miséria intelectual em que vivemos. Faz procurar algum alento que só vem quando lembramos da greve de fome, tendo certeza que ao menos esse messias não ressuscitará no terceiro dia.
Enquanto isso, em um país etéreo, um índio revolucionário resolve que pode enfrentar o Tio Sam com esperança, gás e flechas. Seus amigos ditadores morrem de rir, lhe dão tapinhas nas costas e o presidente operário suja nove dedos de petróleo. Se as coisas continuarem como estão e o governo francês mantiver o sonho de ser, ao mesmo tempo, democracia social e neoliberal, periga a Torre Eiffel sumir em chamas e, então, nem Paris teremos mais.
Bem fez o astronauta que, às custas de impostos pagos por um povo em greve de fome, pode plantar feijões no espaço. Só não entendi porque ele voltou. Eu estou de partida pra Lua para plantar não feijões, mas batatas. Valei-me, São Jorge!

sexta-feira, março 24, 2006

Cinzas...

Achei que conseguiria escrever uma crônica por dia durante o carnaval, relatando meus dias de folião. Graças aos deuses, não consegui. Decretei feriado de fato. O carnaval é um intervalo na vida cotidiana, a subversão pela alegria, a democracia instituída ao som de uma anárquica marchinha.
E agora, na quarta-feira de cinzas, carregado de melancolia e dores de cabeças frutos desta maldita ressaca, escrevo a avaliação final do carnaval. Escrevo na quarta, mas não sei quando publico.
Na quinta feira (portanto antes de carnaval ser oficializado) fui ao desfile dos Escravos da Mauá. Tenho certa pinimba com esse bloco. Como já disse, não acho certo ficar escamoteando as datas dos ensaios. Ainda mais se eles são feitos em praça pública. De qualquer maneira, fui. Fui e gostei. O bloco tem samba próprio, o que, admito, não me agrada muito. Embora seja ótimo ver pessoas que esperaram um ano pra cantar seu hino enchendo a boca, tem uma hora que cansa, né? Mas não foi o caso dos Escravos. Bastante animado, com uma bela bateria, o bloco desfilou pelas ruas do centro. O ponto alto foi ver a Rio Branco sendo parada por milhares de foliões e serpentinas. O símbolo carioca do trabalho era arrombado por alguns instantes pelo lirismo e pelos bumbos. Dou, portanto, nota 8 para os Escravos da Mauá.
Na sexta fui ao Concentra Mas Não Sai. O bloco, como já diz seu nome, não desfila. Estava cheio demais e embora a banda tocasse ótimos hinos carnavalescos, havia gente demais. Tanto que não se ouvia o som a menos que você estivesse disposto a receber pontapés, cotoveladas e pisões. Sem frescura, é carnaval. Mas a organização do bloco poderia ter espalhado caixas de som para ao menos dispersar um pouco a multidão. A sorte foi encontrar o conhecido de um amigo do meu primo, que tem uma loja ali pelas adjacências. Conclusão, ficamos na varanda da loja, numa espécie de cercadinho VIP que logo nos cansou. Nota 6.
No sábado começou o Carnaval de verdade. De tarde fui ao Céu Na Terra em Santa Tereza. Cheguei bem atrasado, principalmente devido ao trânsito do bairro e minha dificuldade em pregar o pom-pom no gorro. Ah, sim. Fui fantasiado de pierrô. O Céu na Terra tem como atração as fantasias de seus componentes. Portanto, acompanhado de minha colombina, subi as ladeiras de Santa e cheguei já na metade do desfile, quando o bloco estava parado no Largo das Neves. Ali ficou algum tempo, tocando boas marchinhas e animando o pessoal. Havia bastante gente fantasiada. Depois, ao som de “Abre Alas”, o Céu na Terra seguiu de volta ao largo do Curvelo. Isso foi complicado. Tanto que desisti no meio da caminhada. Era gente de mais para passar pelas ruas estreitas de Santa Tereza. Mas havia uma energia boa ali. Com o Sol tinindo, o Céu tão colorido fazia me sentir melancólico vestido em minha fantasia preta e branca. Das casas, mangueiras molhavam os animados foliões que bradavam “mas que calô-ô-ôô”. A água renovou os ânimos, exceto o de uma amiga que exibia uma recém escova progressiva. Tudo bem, é carnaval. O Céu na Terra mereceu nota 9.
O ponto alto foi o Cordão do Boitatá. Indescritível! Muito bom humor, fantasias e colorido. Boa música, muita animação. Cheio, mas não lotado. O Boitatá é exatamente o que se espera de um bloco de carnaval. Pelas tuas do centro, esbarrando com gigogas, cones da CET-Rio, Zacarias e mil personagens inusitados o bloco seguia como se o carnaval não acabasse. Foi o único que cheguei no começo e não fui embora nem depois que acabou, pois o povo estava tão animado que o bloco foi embora, mas o foliões continuaram cantando ali por horas. É uma experiência que não pode ser resumida em linhas. Nota 10. Só porque não existe nota maior.

domingo, fevereiro 19, 2006

Impressões de Pré-Carnaval: descaso, suvaco e notas

Hoje, dia 19 de fevereiro, comecei meu treino para o carnaval. Como tem sido há muitos anos, passarei esta data na capital mundial do carnaval: o Rio de Janeiro. O propósito desta crônica nem é discutir a primazia carioca no relativo ao evento, ainda mais visto que tal primazia é indiscutível. Entretanto, no meu primeiro dia desta semana de ansiedade que precede o intervalo do cotidiano tive uma grande decepção. Resolvemos acompanhar o desfile do famoso bloco Suvaco de Cristo. Resolvemos, apesar dos avisos de que ficava muito cheio.
Pois bem, nosso dilema começou logo cedo quando vimos no jornal O Globo que "os organizadores do evento não informaram a hora de saída do bloco". Isso foi foda. Já estou acostumado com essa história. Os Escravos da Mauá nunca divulgam quando acontecerá o ensaio. Grande palhaçada que, a meu ver, só serve pra segregar. Quando vejo que alguém ligado ao samba tenta escamotear seus eventos, já começo a duvidar da qualidade de seu samba.
Mesmo sem saber o horário certo de saída, resolvemos dar um crédito. Chegamos à rua Jardim Botânico às 14:30, se não me engano. Meu primeiro pensamento constatou que de nada adiantara esconder a hora de saída: a rua estava lotada. De longe enxerguei o bloco e resolvi chegar perto já que não ouvia música alguma. Mesmo com tantas pessoas, não tive dificuldade em chegar próximo ao carro de som. Mas o carro de som estava sem som. Só o que se ouvia era alguém lá de cima, com o microfone na mão, pedindo para uma multidão preciptadamente seca por carnaval se acalmasse e abrisse caminho. Essa informação levou algum tempo para ser processada na minha mente.
Depois de quase uma hora com o carro parado e mudo, o bloco conseguiu se mover. Pensei "agora vai começar". Mas que nada. Em uma velocidade muito alta para um desfile de bloco, o caminhão de som do Suvaco de Cristo seguiu rumo à Gávea cantando na capela o samba-enredo desse ano. Sim. O samba foi cantando o tempo inteiro (pelo menos desde a hora que eu cheguei) sem bateria alguma. Fora uma ou outra arranhada no cavaquinho, o que pouco se ouvia eram as vozes roucas cantando um samba que tinha tudo para empolgar a multidão se tivesse acompanhamento de percursão.
Ao chegar correndo na gávea, o bloco foi desmontado em poucos minutos. Esse foi meu pré-carnaval. Fui no desfile de um bloco, onde não se cantou samba, não tinha bateria, e os organizadores do evento estavam de má vontade com o público. Suvaco de Cristo nunca mais. Não mesmo! São não entendi como tanta gente permaneceu lá na rua, debaixo do sol, sem dançar, divertindo-se entre amigos como poderiam fazer em qualquer.
Na qualidade de folião, resolvi dar notas aos blocos de carnaval. O primeiro foi o Suvaco de Cristo que só não recebe nota zero proque cheguei como desfile já iniciado. A nota é 2.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Às elefantas

Aliás, um de meus maiores sonhos era começar um texto com "aliás". Até porque, é semanticamente incorreto. E precisava justificar o uso precipitado. O uso do "aliás" pressupõe que algum outro assunto tenha sido tratado antes. Ao invocarmos o "aliás", indiretamente fazemos referência à nossa capacidade de associação um pouco superior à dos chipanzés, segundo os biólogos. Segundo os cientistas sociais, o "aliás" é exemplo concreto da dominância do homem sobre os demais seres da Terra. Para os poetas e escritores serve para introduzir o assunto realmente importante, uma vez floreada a introdução com algo irrelevante mas bonitinho. Para mim não serve pra nada disso. Para justificar o começo de meu texto com "aliás" recorro ao reino animal. Transformo em vocativo e ensino para meus poucos leitores que, apesar de "elefanta" ser uma forma correta de denominar a fêmea do elefante, aliá também o é. E faço assim minha crônica começando por "aliás", dirigindo-me talvez a um grupo de elefantas para quem é inteligível minha forma de expressão e sem saber se o substantivo está corretamente flexionado. De qualquer forma fiz-me satisfeito e, quem sabe, quando aprenderem a ler, as aliás não vão guardar em suas vastas memórias esta singela homenagem?

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Desengano

Era sábado de carnaval. Acordou cedo, tomou café e disse pra mulher que ia comprar cigarro. Ela não acreditou e ele não fez muita questão de convencê-la. Voltou pro quarto e vestiu a calça branca e uma blusa azul celeste, cor de sua escola. O figurino ficou completo com o chapéu de palha, quase novo, não fossem os 15 carnavais passados. Saiu sem dizer adeus. No sábado bebeu demais. No domingo pulou no bloco. Na segunda-feira torceu pela escola. Na terça gorda apaixonou-se por uma colombina. Na quarta-feira de cinzas voltou maltrapilho pra casa. Com um cigarro no bolso e um saco de pão debaixo do braço, foi recebido pela mulher como se voltasse de mais um dia de trabalho. Tomou bicarbonato e dormiu por uma semana. Acordou, beijou a mulher e correu para a fábrica.

A Mala

Ele fumava um charuto, quando a agulha começou a arranhar o vinil de Ella Fitzgerald que tocara na vitrola. Calmamente desacomodou-se e caminhou lento até o toca-discos. Levantou a agulha e repousou o braço de marfim no apoio do aparelho. Andou até a outra direção da sala. Na pequena mesa havia uma mala bastante gasta pelo uso. Pousou o charuto num cinzeiro de cristal e abriu-a. Contemplou o conteúdo com um sorriso iluminado. Depois de um breve momento de êxtase, o barulho de um carro levou-o preocupado até a janela. Três homens saltavam do automóvel. Olhou para o relógio onde os ponteiros gritavam pressa. Vestiu o sobre-tudo, carregou a arma, pegou a mala e saiu porta afora.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Samba e amor (Chico Buarque/1969)

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

Dia Mundial dos Mágicos

Hoje, dia 31 de janeiro, é o dia Mundial dos Mágicos! Estarão todos comemorando a data festiva em algum lugar não divulgado. Há rumores que este ano o encontro será mais uma vez em Avalon, entretanto, a corrente terceiromundista encantada está fazendo forte pressão para quebrar o monopólio do Reino, tidos por muitos como imperialista e explorador.

A Cuca formou um bloco progressista com o Saci, Magic Johnson e Willow e defendem a realização no Inferninho Maça Envenenada. Já Mister M, que é independente, defende que a festa ocorra em algum local em Las Vegas, devido a visibilidade da cidade. O mesmo defende David Coperfield, embora o motivo seja outro: “Las Vegas é o local mais lucrativo para o mágico médio. Hoje em dia, se você não for jovenzinho afeminado não consegue mais emprego no cinema.” A mesma opinião quanto aos mágicos popstar tem Merlin, principal organizador e defensor de Avalon. “Tenho barba na cara! E branca! Exijo um mínimo de respeito”, bradou após ser perguntado se sua varinha mágica já estava ultrapassada.

Joana D´Arc, devido ao seu complexo de inferioridade, tentando ser aceita por um grupo ao qual não pertence, uniu-se ao Bloco Madrinhas das Princesas (uma marca registrada Disney) e luta pela escolha do Castelo da Cinderela. “Umas vozes me disseram que a melhor opção seria o Castelo”, disse a feiticeira promovida a santa após ser queimada.

Uma coisa já foi decidida Fauna, Flora e Primavera serão as responsáveis pelo banquete, evitando que se repita o incidente do ano passado, quando a Madrasta Má da Branca de Neve envenenou parte dos convidados sem querer.

Haverá alguns convidados especiais: Lula confirmou sua presença. O presidente procura a ajuda dos mágicos para que consiga criar os milhões de empregos que faltam para cumprir a promessa na última campanha. Junto com ele irá José Serra que pretende desaparecer da prefeitura de São Paulo depois de apenas dois anos de mandato e aparecer como candidato à presidência. Na delegação dos políticos teremos também FHC. Após sumir com o patrimônio público, o ex-presidente conseguiu reaparecer como paladino da democracia, o que lhe valeu o título de doutor magics-cause. Entretanto, o chefe da delegação será Paulo Maluf que irá demonstrar sua capacidade incrível de fazer sumir dinheiro, sair de um compartimento fechado e fazer a justiça de idiota. Os políticos do PSOL e PSTU não foram convidados, pois embora anunciem que sabem fazer mágica, isso nunca foi comprovado.

Os artistas serão representados por Guilherme Fontes que mais uma vez não deve apresentar seu filme “Chatô” pronto. Além disso, Walcyr Carrasco, autor de Alma Gêmea, vai explicar como conseguiu transformar Priscila Fantin e André Gonçalves em índios.

O principal barrado da festa será Paulo Coelho que auto-intitula-se “mago”. Entretanto, foram convidados os responsáveis que prestaram o desserviço à literatura nacional ao tornar o “mago” um imortal. Ah, se Machado soubesse disso...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Segunda grande questão...

OK... a segunda grande questão. Seguinte: esse esquema de a nova publicação aparecer em cima das mais antigas cria uma controversa. Por um lado, destaque-se o meu último comentário... Ótimo! Por outro lado, talvez eles fiquem sem sentido. Por exemplo: será que antes de lerem esta publicação, as pessoas lerão a de baixo. Porque de alguma forma elas estão interligadas. Se eu resolver contar uma história o leitor vai começar pelo final? Ou os leitores e freqüentadores de blogs são inteligentes o suficiente pra começar lendo de baixo? Talvez tenha uma opção pra inverter isso. Mas não estou certo de que seja melhor o avesso. Talvez seja. Ou não...

Fuso Horário...

Minha primeira grande questão do blog é: Por que nas opções de fuso horário não existe Brazil/Brasilia? Pobre carioca foi obrigado a selecionar Brazil/São Paulo! Valha-me São Sebastião! Existe até a opção de Brazil/Rio Branco! Meu Deus! Quem mora em Rio Branco e tem um blog? Com certeza menos gente que no Rio... Fazer o quê? Fique registrado meu fuso horário: Brasil/Rio de Janeiro.

Teste

Um, dois, três, testando. Alô! Som! Grave, grave, médio, agudo.