sexta-feira, março 24, 2006

Cinzas...

Achei que conseguiria escrever uma crônica por dia durante o carnaval, relatando meus dias de folião. Graças aos deuses, não consegui. Decretei feriado de fato. O carnaval é um intervalo na vida cotidiana, a subversão pela alegria, a democracia instituída ao som de uma anárquica marchinha.
E agora, na quarta-feira de cinzas, carregado de melancolia e dores de cabeças frutos desta maldita ressaca, escrevo a avaliação final do carnaval. Escrevo na quarta, mas não sei quando publico.
Na quinta feira (portanto antes de carnaval ser oficializado) fui ao desfile dos Escravos da Mauá. Tenho certa pinimba com esse bloco. Como já disse, não acho certo ficar escamoteando as datas dos ensaios. Ainda mais se eles são feitos em praça pública. De qualquer maneira, fui. Fui e gostei. O bloco tem samba próprio, o que, admito, não me agrada muito. Embora seja ótimo ver pessoas que esperaram um ano pra cantar seu hino enchendo a boca, tem uma hora que cansa, né? Mas não foi o caso dos Escravos. Bastante animado, com uma bela bateria, o bloco desfilou pelas ruas do centro. O ponto alto foi ver a Rio Branco sendo parada por milhares de foliões e serpentinas. O símbolo carioca do trabalho era arrombado por alguns instantes pelo lirismo e pelos bumbos. Dou, portanto, nota 8 para os Escravos da Mauá.
Na sexta fui ao Concentra Mas Não Sai. O bloco, como já diz seu nome, não desfila. Estava cheio demais e embora a banda tocasse ótimos hinos carnavalescos, havia gente demais. Tanto que não se ouvia o som a menos que você estivesse disposto a receber pontapés, cotoveladas e pisões. Sem frescura, é carnaval. Mas a organização do bloco poderia ter espalhado caixas de som para ao menos dispersar um pouco a multidão. A sorte foi encontrar o conhecido de um amigo do meu primo, que tem uma loja ali pelas adjacências. Conclusão, ficamos na varanda da loja, numa espécie de cercadinho VIP que logo nos cansou. Nota 6.
No sábado começou o Carnaval de verdade. De tarde fui ao Céu Na Terra em Santa Tereza. Cheguei bem atrasado, principalmente devido ao trânsito do bairro e minha dificuldade em pregar o pom-pom no gorro. Ah, sim. Fui fantasiado de pierrô. O Céu na Terra tem como atração as fantasias de seus componentes. Portanto, acompanhado de minha colombina, subi as ladeiras de Santa e cheguei já na metade do desfile, quando o bloco estava parado no Largo das Neves. Ali ficou algum tempo, tocando boas marchinhas e animando o pessoal. Havia bastante gente fantasiada. Depois, ao som de “Abre Alas”, o Céu na Terra seguiu de volta ao largo do Curvelo. Isso foi complicado. Tanto que desisti no meio da caminhada. Era gente de mais para passar pelas ruas estreitas de Santa Tereza. Mas havia uma energia boa ali. Com o Sol tinindo, o Céu tão colorido fazia me sentir melancólico vestido em minha fantasia preta e branca. Das casas, mangueiras molhavam os animados foliões que bradavam “mas que calô-ô-ôô”. A água renovou os ânimos, exceto o de uma amiga que exibia uma recém escova progressiva. Tudo bem, é carnaval. O Céu na Terra mereceu nota 9.
O ponto alto foi o Cordão do Boitatá. Indescritível! Muito bom humor, fantasias e colorido. Boa música, muita animação. Cheio, mas não lotado. O Boitatá é exatamente o que se espera de um bloco de carnaval. Pelas tuas do centro, esbarrando com gigogas, cones da CET-Rio, Zacarias e mil personagens inusitados o bloco seguia como se o carnaval não acabasse. Foi o único que cheguei no começo e não fui embora nem depois que acabou, pois o povo estava tão animado que o bloco foi embora, mas o foliões continuaram cantando ali por horas. É uma experiência que não pode ser resumida em linhas. Nota 10. Só porque não existe nota maior.