sexta-feira, abril 08, 2011

Silêncio

Silêncio

Este é um momento de silencio. Os acontecimentos desta semana, as crianças mortas na escola de forma estúpida, podem gerar um série de sentimentos na humanidade. Primeiro, pela forma como tudo aconteceu. Segundo, porque qualquer atentado contra vida de uma criança é algo estúpido. O ser humano, infelizmente está acostumado a massacres que possuam "justificativa. É assim com as guerras, com os latrocínios. Por mais revolta que cause, perder alguém querido por causa de um relógio, isso tornou-se quase aceitável no coração das pessoas. Esta é a sociedade capitalista. Muitos destroem o planeta para ter lucros, outros inventam guerras e destroem almas e famílias, há ainda os matam por um relógio.

Mas, em nenhum destes casos, a humanidade se sente tão desamparada como se sente quando ocorre algo como os fatos desta escola no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro. Ali, foi feito o mal, pelo mal. Não adianta tentar buscar nenhuma explicação, pois nenhuma será satisfatória. Os médicos e psicólogos podem traçar perfis psicopatas no responsável pela execução. Os vizinhos podem dizer que ele tinha um comportamento estranho. Isto não conforta. Seres humanos, saibam ficar de luto. Este é um momento de silêncio. Não é o momento de espezinhar a tragédia com fotos, notícias e manchetes. Não é o momento de desejar que o assassino estivesse vivo para que ele arcasse com todo ódio que está sendo gerado neste momento. Se ele estivesse vivo, ele seria mais uma justificativa, um elemento que poderia saciar falsamente a sede da sociedade que choraria por justiça. Não é momento de ódio, que só servirá para tentarmos confortar nosso peito em vão. Agora é momento de silêncio. É hora de saber chorar pela maldade que foi feita, pelas vidas que foram tiradas, mas sem ter sentimentos de revolta. Eles serão inúteis. Os pais destas crianças já estão revoltados o bastante.

Vamos aceitar o luto e fazer com que ele nos torne mais humanos, no sentido grandioso da palavra, por mais que a sensação seja de pequenez. Percebam suas fraquezas, sua simplicidade diante de uma realidade que, muitas vezes, pode escapar de suas explicações. Abracem a pessoa próxima de vocês. Chorem no seu ombro. Uma crueldade terrível foi feita, um atentado à beleza da condição humana. E você está despedaçado por dentro porque você também é humano. Aproximem-se uns dos outros, enxerguem-se iguais perante o universo. A tristeza está aí e não haverá atitude a ser tomada por autoridades, ou agentes da sociedade civil que a amenize. É um momento para reconhecer a unidade presente na humanidade, que se choca, independente de sua condição cultural, diante de um ato tão grotesco.

É compreensível que se tenha ódio de um ditador, de um ladrão, ou de um aproveitador. Eles estão cruzando a linha estipulada pela sociedade que separa a boa conduta da conduta perversa. Essa semana, ficou claro que existe uma linha acima dessa. Uma linha traçada pelo universo, desenhada a partir da plenitude e do equilibro de tudo que significa o fato de ser uma pessoa do planeta Terra. Essa semana, esta linha foi ultrapassada. E diante disso, não busquem explicações pois estas serão oriundas dos códigos da sociedade e serão, portanto, insatisfatórias. O que foi ferido dentro do coração de cada um, não foram os limites sociais, mas a natureza humana. Este é um momento de silêncio.