quinta-feira, outubro 03, 2013

Não vão bater no meu professor!

Quando explodiram as manifestações de julho, eu vi muita gente gritando por aí que o gigante tinha acordado. A timeline das redes sociais era só revolta, um fenômeno que bateu até a época dos nomes nas latinhas de refrigerante. Havia várias reclamações. A meu ver, houve muito pouca opinião. A principal crítica que as manifestações do vinagre receberam era a por se tratar de um movimento sem bandeiras. Ora, mas o povo não se sente mais representado pelos partidos, clamou a imprensa conservadora e ecoaram os repetidores revoltados.

Mas quando os críticos falavam sobre a falta de "bandeiras", não eram às bandeiras de partidos que eles se referiam. O que faltava naquele movimento eram propostas. É interessante, e há até uma áurea poética, quando milhares de pessoas se unem nas ruas para dizer que o poder emana do povo (mesmo estando o povo ali ou não). Entretanto é preocupante e vazio quando boa parte daquelas pessoas sabem o que não querem, mas não fazem a menor idéia do que querem. Pior é quando muitos cartazes refletem a opinião pública, digo opinião publicada, e as pessoas que os carregam nem sabem o que querem dizer. Um exemplo fácil de citar é o da PEC37. E a imprensa elegeu logo a corrupção como o cerne dos protesto.

Na verdade, em junho e julho, o movimento começou com uma bandeira clara: melhoria na mobilidade urbana. Depois que o MPL se retirou da luta, o protesto acabou vazio tocado por alguns coxinhas e depois com meia dúzia de vândalos causando baderna. Durante todo esse tempo, a polícia agiu da mesma forma: com bastante violência.

Pouco tempo depois, os professores da rede municipal do Rio de Janeiro, seguidos depois pelos da rede estadual, deflagraram uma greve. A constituição os dá direito para tal. As condições aos quais nossos mestres são submetidos todos os dias mais do que justificam essa atitude. Escolas caindo (literalmente), salas super lotadas, sistema pedagógico risível, salários baixos, desmandos de uma secretária que não representa em nada a categoria. Os professores pararam, os professores foram engolidos por um prefeito "olimpianamente" arrogante, os professores foram para a rua protestar.

Quando uma parte da sociedade vai para a rua protestar, é porque quer ser ouvida. É porque tentou negociar politicamente melhorias para sua classe e não conseguiu. Desde o começo da greve, não vi a "grande" imprensa dar muita importância ao movimento. Não vi os revoltados do feicibuque reclamarem por melhores condições para nossos professores. O movimento dos professores é muito mais difícil de embalar e vender como um protesto contra a corrupção o qual será direcionado para quem a imprensa bem entender. A elite conservadora não consegue converter a insatisfação dos mestres em algo que convenha a seus interesses porque nossos professores têm propostas. Eles estão indo para as ruas dizendo o que não querem, o que querem, porque querem e como querem. Eles estão organizados política e socialmente.

Na última terça-feira, ocorreu um dos fatos mais lamentáveis de nossa história recente. Professores protestavam em frente a câmara dos vereadores contra a votação de um plano de educação imposto e elaborado por Eduardo Paes sem a participação do sindicato dos professores. O que o ocorreu no fim do dia foi constrangedor para nossa democracia. A Polícia Militar do Rio de Janeiro atacou violentamente nossos professores. Jogou spray de pimenta e bombas de efeito moral neles. Durante boa parte da noite, a PM caçou pelas ruas do Centro da cidade e forjou flagrantes (até o jornalão publicou).

Bater em professor é inadmissível. Todos nós já fomos alunos. Todos sabemos o quanto é necessário se dedicar para seguir uma profissão tão desvalorizada em nosso país. E terça a noite nossos professores foram violentados por uma polícia truculenta, covarde e despreparada. Uma polícia que nunca foi um braço do Estado com qual nós, moradores do Rio de Janeiro, pudemos contar. E agora, ela resolve espancar física e moralmente nossos professores. Isso eles não podem fazer.

Eu acredito que boa parte daqueles que foram para as ruas em julho não concordam com as reivindicações dos professores, apesar de terem gritado por "melhor educação", em julho. Mas eu acho inaceitável que este acinte com a educação passe em branco. Os professores têm suas bandeiras e eles têm direito a lutar por elas. Nós, como alunos ou ex-alunos, temos o dever de defender ao menos uma: não vão bater em nossos professores. Seja com cacetete, spray de pimenta, ou bomba. Professores não são vândalos e não é tolerável qualquer tipo de violência contra eles. O direito de protestar e propor é caro para a democracia.

Os acontecimentos de terça-feira fizeram com que a demanda de uma classe se tornasse uma luta da sociedade toda. O gigante deveria ter acordado e se organizado antes para perceber que as bandeiras da educação são fundamentais para qualquer transformação social que almejamos. Mas estávamos muito ocupados postando fotos de nossos gatos na rede social. Agora não tem mais desculpa. A PM, braço de repressão do Estado, elegeu um inimigo: os professores. A grande imprensa resolveu desqualificar o movimento dizendo que ele é conduzido por partidos sem representação. Precisamos nos posicionar. Na segunda feira, dia 7 de outubro, às 17h, será feito um ato pacífico que começa na Candelária e irá até a Cinelândia. Eu estarei lá. Professores, muito do que conquistei em minha vida (conhecimento, amizades, trabalhos e lições) foi graças a alguns de vocês. E por causa de vocês eu aprendi que a violência não é uma forma válida de alcançarmos nossas demandas. Contem comigo!